A 17 dias do verão em que o Rio comemora seus 450 anos, a cidade se prepara para receber um número recorde de turistas : 3,464 milhões de estrangeiros e brasileiros, entre dezembro e março, segundo previsão da Secretaria de Turismo. Para dar conta desse número robusto, ainda surfando na boa maré da Copa do Mundo e criando expectativa para os Jogos Olímpicos, a Zona Sul da Cidade Maravilhosa vê explodir a quantidade de aluguéis de imóveis por temporada. E nem precisa ser um imóvel inteiro: pode ser apenas um quarto sem uso dentro de uma casa já habitada, ou até mesmo um sofá no canto da sala. Empresas do setor são unânimes em afirmar que as ofertas por temporada continuarão subindo nos próximos anos.

Segundo o vice-presidente de Locações do Secovi Rio, Antonio Paulo Monnerat, a Copa do Mundo colaborou para uma ligeira mudança no tipo de aluguéis ofertados.

– A nossa percepção é de que houve uma migração do aluguel tradicional para o aluguel de temporada cerca de três meses antes da Copa, e o fenômeno continuou um pouco depois do evento. Com a proximidade do fim de ano, o movimento volta a acontecer, principalmente em Ipanema e Copacabana – prevê Monnerat.

No site de aluguéis por temporada AirBnb, o Rio é a cidade brasileira que tem mais anúncios -e a quarta do mundo. Atualmente, os três bairros com mais ofertas são Copacabana, com mais de 3 mil; seguida por Ipanema, com 1.100; e Leblon, com 600. E os números não param de crescer, incluindo áreas que começaram a se tornar badaladas nos últimos anos, como o Alto Vidigal, onde há até fila de espera para hospedagem.

O AirBnb começou a funcionar em 2008, em São Francisco, nos Estados Unidos, e demorou quatro anos para atingir o primeiro milhão de hóspedes. No entanto, desde 2012 – sugestivamente, o ano em que o Brasil passou a fazer parte da lista de destinos -, a cada mês um milhão de novos hóspedes fecham negócio. Além de Copacabana, Ipanema e Leblon, lugares como Botafogo, Flamengo, Laranjeiras e Santa Teresa também estão na lista dos bairros cariocas onde há mais oferta e mais procura.

– A previsão é de outro crescimento significativo de oferta e de demanda nesse final do ano. Vemos uma linha de crescimento constante, mesmo depois das Olimpíadas. O mercado de turismo de temporada no Rio, e na Zona Sul mais especificamente, está longe da saturação – afirma, otimista, o gerente de marketing do Airbnb, Samuel Soares.

Apenas na Zona Sul, o site Alugue Temporada registrou crescimento de 21% no número de imóveis anunciados, de setembro de 2013 a setembro de 2014. Hoje, são cerca de 3.500 imóveis, dos quais aproximadamente 1.500 ficam em Copacabana, o bairro que tradicionalmente tem a maior oferta e a maior procura, seguido do Leblon e de Ipanema. Apesar dessa grande quantidade de apartamentos disponíveis, Copacabana não é a localidade com o maior crescimento percentual de imóveis anunciados. Este posto pertence a Laranjeiras, bairro que registra, este ano, um número de ofertas 145% maior do que no ano passado, contra um crescimento de 23% da Princesinha do Mar. Segundo a empresa, Gávea e Flamengo também tiveram crescimento acima da média, registrando altas de 67% e 41%, respectivamente.

A receita do Alugue Temporada é feita em cima da assinatura de seus clientes, os proprietários dos imóveis. O plano mais barato custa R$ 33, podendo-se pagar mais caro proporcionalmente ao nível de exposição que a pessoa queira para o anúncio. Para Nicholas Spitzman, presidente da empresa, o aluguel de imóveis por temporada é extremamente vantajoso não só para turistas, mas também para os donos de apartamentos.

– São duas grandes vantagens. A primeira é que, como a pessoa aluga geralmente o seu segundo imóvel, ela ainda pode usar esse imóvel quando quiser. Se ela alugasse do modo tradicional, por 24 ou 30 meses, não poderia entrar na casa. A segunda vantagem é a aposta no setor de turismo. No Rio de Janeiro, principalmente na Zona Sul, o aluguel por temporada cada vez mais vem substituindo os hotéis – analisa ele.

Natural de Goiânia, Cássia Chein é uma dessas proprietárias que optou por alugar o seu segundo imóvel por períodos curtos. Com seu marido trabalhando no Rio, ela comprou um quitinete na quadra da praia da Rua Siqueira Campos, em Copacabana, para alugar para turistas e ter uma renda extra no final do mês.

– Esse apartamento está sempre cheio. Meu calendário está lotado até fevereiro. Já fechei para o ano novo, carnaval e Semana Santa. Em baixa temporada, eu cobro uma diária de R$ 260, para duas pessoas. Em dezembro e julho, são R$ 280. O preço mais alto é em janeiro: R$ 320. Estou muito satisfeita com esse modelo de negócio – diz Cássia.

Renda maior sem burocracia

Quem pensa que o aluguel de imóveis por temporada não dá trabalho para o locador está muito enganado. Cássia Chein chegou a responder 200 e-mails por dia, antes de fechar o calendário do Alugue Temporada para os próximos feriados.

– Passei a estabelecer horários para responder as mensagens, senão não conseguiria fazer mais nada! – lembra ela.

Boa parte da rotina dos sócios e companheiros Eduardo de Freitas e Giancarlo Scotti também é dedicada a responder mensagens de pessoas interessadas em alugar um dos oito apartamentos que eles têm na Zona Sul. O casal conta que é preciso, em geral, uma troca de 30 emails com cada cliente para que um acordo seja feito.

O negócio começou há dez anos, quando o italiano Scotti vendeu um apartamento em Roma, numa época em que o euro custava R$ 3,80, e veio morar no Rio de Janeiro. Na mesma ocasião, Freitas vendeu um grande apartamento em Ipanema. Com o dinheiro desses dois imóveis, eles compraram quinze apartamentos na Cidade Maravilhosa, todos pequenos, para alugar por temporada.

– Quando começamos, poucas pessoas faziam esse tipo de aluguel. Para nós, a grande vantagem desse modelo sobre o aluguel tradicional é a renda, que é muito maior. E, ainda por cima, eu vendi meu apartamento na Itália quando estava muito valorizado, antes de o país entrar em crise; e comprei os imóveis aqui no Rio pouco antes de os preços do setor imobiliário dispararem – conta o sortudo Giancarlo.

Para facilitar a vida dos proprietários que têm pouco tempo para responder a tantos e- mails e receber os visitantes, o empresário Tony Teixeira criou a Copa Aluguel, empresa na qual ele assume essa tarefa no lugar dos locadores. Responsável por 70 apartamentos em Copacabana, ele conta que muitos clientes nem sequer são turistas, e sim moradores da cidade que encontram nos aluguéis por temporada uma forma de escapar da burocracia que aluguéis tradicionais exigem.

– Muitos clientes não têm contracheque ou fiador. O aluguel por temporada funciona como pré- pago: o locatário paga e entra no apartamento na hora – explica Teixeira.

O que começou como uma brincadeira virou negócio para o cirurgião plástico Domingos de Paola. Herdeiro de uma cobertura na Rua Ronald de Carvalho, na quadra da praia, em Copacabana, ele resolveu fazer uma grande reforma e alugar o apartamento por temporada. Hoje, Domingos conta oito imóveis disponíveis: seis apartamentos em Copacabana, um na Barra e uma casa em Maricá.

– A gente faz isso pensando na nossa velhice. Quando eu não quiser mais operar, quando minha mulher quiser se aposentar, a gente vai apenas administrar isso e viver dessa renda – afirma ele.

 

Fonte: O Globo – 04/12/2014