Revitalização de grandes áreas urbanas, em especial daquelas localizadas de frente para o mar, sustentabilidade, infraestrutura verde. Temas ligados ao urbanismo e cada vez mais em discussão em grandes cidades do mundo inteiro estarão em pauta na Feira Construir, que acontece de quarta a sábado, no Riocentro. Além dos estandes de mais de 300 marcas que oferecem produtos e ferramentas para o mercado da construção, a feira este ano investiu na realização de fóruns para debater a cidade.

– A cada ano, mudamos os temas e, neste momento, quisemos trazer essas pessoas que pensam a cidade para oferecer um conteúdo mais diversificado e abrangente – explica Victor Montenegro, diretor de negócios da Fagga, empresa responsável pela feira.

O primeiro dos fóruns será logo no dia de abertura do evento. Em parceria com o Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB Rio), o fórum “Arquitetura e cidade no século XXI” vai discutir ideias para a frente marítima do Rio e terá a participação dos arquitetos João Pedro Backheuser e Milton Braga, curador do Instituto de Urbanismo e de Estudos para a Metrópole (Urbem), além de uma palestra de Rob Adams, secretário de urbanismo de Melbourne, responsável pela reurbanização da cidade australiana. Apontada como modelo, Melbourne fez, entre outras coisas, a reurbanização de sua frente marítima, que ganhou parques, espaços públicos de convivências e caminhos bem distintos para passagem de carros, bicicletas e pedestres.

BAÍA DE GUANABARA URBANIZADA

– O reencontro das áreas urbanas com as águas valoriza essas regiões, estimulando as pessoas a ficarem ali e não mais a utilizarem apenas como passagem – acredita a arquiteta Fabiana Izaga, vice-presidente do IAB Rio e curadora do Fórum.

Para Fabiana, no caso do Rio, é preciso ir além das regiões centrais – Rio e Niterói têm projetos distintos de valorização de suas frentes marítimas – e levar essa urbanização para todos os sete municípios da Região Metropolitana, banhados pela Baía de Guanabara:

– A baía tem 112 km de costa. Cerca de 60 km, menos da metade, têm suas frentes urbanizadas no Rio, Niterói e Magé. O restante da baía foi, historicamente, usado para despejo de dejetos de indústrias e, hoje, fica nos fundos de áreas, quase sempre abandonadas. É preciso fazer com que a baía volte a ser a frente dessas regiões, que essas cidades tenham acesso ao mar, reurbanizando essas áreas.

Já no dia 3, o fórum “Infraestrutura verde nas construções” vai debater a urbanização sustentável das cidades, o que passa, em grande parte, pela questão da drenagem das águas das chuvas. Um impacto que pode ser minimizado até com atitudes simples como a instalação de telhados e muros verdes. Participam do debate o arquiteto argentino radicado na França Pablo Georgieff, a carioca Alexandra Lichtenberg, além de Jorge Fernando Pires e Pierre Matin.

– É preciso não só pensar em novos bairros e cidades, mas em regenerar as cidades cinzas e poluídas que temos hoje – defende Cecília Herzog, curadora do fórum e presidente do instituto Inverde. – Seul, que tem 20 milhões de habitantes, tirou um viaduto e recuperou seu córrego que antes ficava escondido. A cidade era inabitável e, hoje, é muito mais agradável porque está resolvendo seus problemas. Assim como Nova York e Paris, que estão ampliando a biodiversidade de suas áreas urbanas.

Por outro lado, a infraestrutura verde passa também pela construção ou adaptação de nossas casas ou prédios. Bons exemplos dessa arquitetura são o CH2, em Melbourne, ou o da faculdade de ecologia da Universidade de Wageningen, na Holanda. Embora com projetos totalmente diferentes, ambos foram planejados levando-se em consideração características climáticas locais e têm soluções que ajudam a controlar sua temperatura interna, diminuindo os custos com energia e melhorando a qualidade de vida de quem circula pelos edifícios.

O prédio da prefeitura de Melbourne ganhou brises e vegetação nas fachadas. Já a faculdade holandesa tem parques internos e barreiras de árvores que evitam alagamentos e diminuem a forte incidência dos ventos, tão comuns na região.

 

Fonte: O Globo – 28/09/2014