Construção deve voltar a crescer no 2º semestre, projetam associações

Após sofrer o impacto negativo da crise nos últimos três anos, a indústria da construção espera pegar carona na melhora do ambiente econômico nacional, aproveitando a queda da inflação e dos juros, o aumento na confiança dos consumidores, além do potencial recomeço da criação de empregos. Esse conjunto de fatores tende a recompor gradualmente a demanda por imóveis que foi reprimida pela crise. Com isso, o setor deve atingir um crescimento modesto a partir do segundo semestre de 2017, com aceleração em 2018, de acordo com projeções de pesquisadores e representantes de diferentes setores da cadeia produtiva.

A coordenadora de estudos da construção da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Ana Maria Castelo, estima alta de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) da construção em 2017. A pesquisadora observa que a expansão ainda é pequena, mas, se for alcançada, já representará uma evolução significativa frente à baixa dos anos anteriores. O PIB do setor encolheu 5,2% em 2016, 6,5% em 2015 e 2,1% em 2014.

“Esperamos que será um processo lento de retomada, marcado ainda por muitas incertezas”, diz, referindo-se à tramitação de reformas estruturais no Congresso e a instabilidades políticas que podem sacudir o País. “Mas passar de uma queda grande para uma alta já seria um passo importante para o PIB da construção”, ressalta Ana Maria.

A expectativa de melhora no nível de atividade setorial passa, principalmente, pelo mercado imobiliário. Além da melhora no quadro nacional, o setor se beneficiará dos ajustes recentes anunciados pelo governo federal, como a ampliação do Minha Casa Minha Vida e a elevação do limite do FGTS destinado à compra de moradias. Já no setor de infraestrutura, são esperadas as retomadas de algumas poucas obras públicas que estavam paralisadas, mas ainda sem o início de novos empreendimentos, que aguardam ajustes regulatórios e concessões.

O presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), José Carlos Martins, também vê uma recuperação gradual do setor. “O reaquecimento já vai aparecer no segundo semestre. E em 2018, acredito em uma aceleração mais relevante”, afirma. Martins lembra que o ciclo da construção é longo. Ou seja, com novos negócios sendo efetivados agora, a contratação de trabalhadores, materiais e serviços só começará nos meses seguintes, empurrando o maior volume da geração de riqueza para o ano que vem.

Esses efeitos são sentidos pela Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat). O presidente da entidade, Walter Cover, prevê um faturamento estável neste ano – o equivalente a um alta nominal igual à inflação. “Achamos que a queda na receita será amenizada aos poucos, recuperando-se no segundo semestre”, afirma Cover. “Algumas empresas já estão vendendo mais em termos de volumes, porém a preços iguais ou menores, para não correr o risco de perder em faturamento”, comenta.

Cover acredita que, por enquanto, as vendas da indústria ainda serão sustentadas pela demanda do varejo, com materiais destinados a obras e reformas domésticas. As compras pelas construtoras, por sua vez, só devem reagir mais adiante. “O varejo representa 50% das vendas da indústria, tradicionalmente, mas nesse ano deve chegar a 55% das vendas, enquanto as construtoras devem cair para 45%”, estima.

Imóveis e crédito – Com os primeiros sinais de recuperação da economia brasileira, os empresários do ramo de incorporação já contam com a inflexão do setor, onde a comercialização de imóveis derreteu nos últimos anos. Em São Paulo, maior mercado imobiliário do País, a previsão é de alta entre 5% e 10% nos lançamentos e vendas de imóveis em 2017, de acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi-SP). “Estamos no fim de um ciclo de baixa e iniciando um ciclo de recuperação”, ressalta o presidente, Flávio Amary.

Em 2016, os lançamentos somaram 17,6 mil unidades na capital paulista, queda de 23,3%. Já as vendas totalizaram 16,0 mil unidades, retração de 19,7%. A quantidade de moradias vendidas foi a mais baixa já registrada pelo sindicato desde 2004, o que também ajuda a sustentar a expectativa de alguma melhora daqui em diante. Amary pondera, entretanto, que a recuperação do setor ainda aguarda a volta da criação de empregos e a recomposição da renda da população, o que só deverá ocorrer a partir do segundo semestre.

Essa é a mesma linha de análise do presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip), Gilberto Duarte de Abreu Filho. “A partir do segundo semestre, a taxa básica de juros estará em um dígito. Com isso, o mercado poderá ver mais disponibilidade de recursos para financiamentos, com juros menores”, afirma Duarte. “Mas 2017 será apenas o começo da virada. 2018, sim, vai mostrar um crescimento robusto”, diz, referindo-se à espera pela volta dos empregos e da renda dos consumidores.

Para 2017, a Abecip projeta um crescimento na ordem de 10% nos empréstimos para a compra e construção de imóveis no Brasil. Com isso, a concessão de crédito atingirá R$ 50 bilhões, patamar semelhante ao de 2010, o que evidencia como o setor andou para trás durante a crise.

Já o novo presidente de Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), Luiz Antonio França, concorda com a expectativa de melhora do ambiente macroeconômico, mas evita fazer uma previsão para o volume das operações no ano. Na sua opinião, os negócios ainda são duramente afetados pela falta de segurança jurídica decorrente da demora na regulamentação dos distratos, que têm sangrado o caixa das incorporadoras. Enquanto as regras não saírem, as empresas ainda vão pensar muito antes de lançar novos projetos e ter complicações nas vendas, avalia França.

Fonte: O Estado de S. Paulo online – 22/03/2017