Os ganhos de eficiência no transporte de pessoas e cargas com o uso de tecnologia e inteligência digital foi um dos aspectos debatidos no Fórum Digitalização: Soluções para um Brasil mais Competitivo, promovido pela Folha.

João Gouveia Ferrão Neto, diretor técnico da ANPTrilhos e diretor de operações da SuperVia do Rio, destacou que é preciso dar condições nos terminais para que o usuário consiga fazer a transferência entre os meios de transporte.

“Os vários transportes são complementares, não concorrentes. Com o adensamento populacional, há ganhos de eficiência com esse transporte multimodal”, disse

A conexão entre os diferentes meios também foi defendida por Harald Zwetkoff, presidente da ViaQuatro. “O metrô é disparado o mais eficiente, a questão é como chegar ao metrô. Intermobilidade pressupõe mais linhas do metrô e integração”.

“Inovação é fundamental para promover melhoria do sistema de transporte. Um Brasil mais competitivo passa pela mobilidade. Do lado da infraestrutura já existe inovação, o que falta é incentivo para atrair o usuário”

Frederico Bussinger, consultor do Instituto de Desenvolvimento, Logística, Transporte e Meio Ambiente (Idelt) afirmou que o principal entrave para melhorar a mobilidade está na execução do planejamento. “Não é por falta de políticas e planejamento, é por não colocá-los em prática. Para dar uma ideia, 46% dos caminhões em São Paulo rodam vazios, congestionando o trânsito desnecessariamente”, afirmou.

Alessandro Germano, chefe de parcerias do Google Brasil, disse que a melhora da mobilidade passa por aumento da infraestrutura, com auxílio da tecnologia.

“Mobilidade urbana está cada vez mais ligada à mobilidade tecnológica, e isso tem a ver com a explosão no uso de smartphones”, disse Germano, citando que uma em cada cinco pesquisas no Google tem a ver com localização.

REGULAÇÃO

O sistema elétrico passa por uma transformação, com novas fontes de energia e tecnologias, e precisa se adaptar a essa nova realidade.

Essa foi uma das conclusões do painel “Infraestrutura inteligente como meio para redução de perdas de energia”, do Fórum Digitalização.

“O setor elétrico, por característica, não tem o hábito de mudar, e o grande desafio é inovar em um setor regulado”, afirmou Teresa Vernaglia, vice-presidente da AES Eletropaulo.

A executiva dá como exemplo a região Nordeste do país, onde cerca de 30% da energia gerada é eólica. “Um dos desafios é a integração dos sistemas e na distribuição dessa energia, já que há apenas 512 conexões no Brasil.”

De acordo com Teresa, o primeiro passo para avançar nesta área é a regulação, que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel, agência reguladora do setor) deve soltar em breve.

“Se queremos uma solução integrada para o sistema, precisamos de balizadores para que soluções tecnológicas tenham uma orientação”, afirmou José Ragone, presidente da transmissora de energia Taesa. Para ele, outra questão importante é manter o sistema elétrico estável. “Falta planejamento; é preciso traçar regras e padrões.”

Ragone defende também uma política de investimento em redes inteligentes. “A busca por eficiência é necessária, é inexorável o investimento em tecnologia, mas de forma integrada”, disse.

Guilherme Mendonça, vice-presidente sênior da divisão Energy Management da Siemens Brasil, afirmou que há uma variação da maturação da tecnologia por área do setor elétrico. Em companhias de geração e transmissão de energia, a digitalização está mais avançada.

Já nas distribuidoras, ainda está em um estágio anterior. “A área de distribuição precisa reduzir custos operacionais, e isso passa por digitalização, como a manutenção preditiva para deslocar equipes”, disse.

A tecnologia da informação também pode ajudar no combate às perdas de energia, outro grande problema do setor elétrico.

“O total de perdas do sistema elétrico entre a geração e o consumo chega a 23%, sendo que as não técnicas (roubo de energia) chegam a 6%, ou R$ 5 bilhões ao ano”, disse Mendonça.

As baterias, como as usadas em carros elétricos e que podem ter outras aplicações -em residências, por exemplo-, foi outro ponto do debate. “A bateria é muito forte nos Estados Unidos e pode ser uma solução para a intermitência no sistema elétrico no Nordeste. Mas também precisa de regulação”, comentou Vernaglia, da AES Eletropaulo.

 

Fonte: Folha de São Paulo – 30/09/2015