Quando se separou, o administrador Bruno alugou um apartamento de quarto e sala semimobiliado. Com cozinha e quarto prontos, e apenas a sala vazia. Levou roupas, objetos pessoais e alguns presentes de casamento. Os móveis ficaram todos com ela. Já Paula Fernandes começou a procurar um novo apê para comprar assim que se separou. Queria um com varanda e condições que reproduzissem minimamente o conforto que tinha em sua ampla casa. Por isso, deixou os móveis guardadinhos num depósito, esperando o dia de levá-los para o novo endereço. Os preços do Rio, contudo, não deixaram, e ela acabou comprando um imóvel menor que pretendia e tendo que abrir mão de algumas de suas peças.

Homens e mulheres são assim. Até no pós-separação reagem de maneiras diferentes. Eles mais práticos. Elas, detalhistas. O que importa para cada um deles na hora de montar uma nova casa?

— Os homens são mais práticos. Vão para apartamento de temporada, flat. As mulheres não abrem mão de cozinha e sala sempre arrumadinhas. Querem receber bem. E impressionar. Em geral, a mulher curte mais a casa mesmo — avalia o arquiteto Thoni Litsz.

Depois de dois anos separado, Bruno também comprou seu apê. Na reforma, ainda em curso, está arrumando um dos dois quartos, que está ganhando armários planejados, e um banheiro. Fora isso, importante mesmo é ter acesso a internet e TV por assinatura, com pay per view, para assistir ao futebol, já que é carioca e mora em São Paulo. Cozinha também não foi uma preocupação. Afinal, não faltam restaurantes para comer na rua, sem precisar lavar a louça depois. Mas geladeira e máquina de lavar, ele não abre mão de jeito algum. Praticidade sempre.

Já para elas, beleza é, sim, fundamental. O quarto pode até ter um colchão no chão. Mas, além de confortável, ele vai receber uma bela roupa de cama. E o ambiente ganhará algum toque, na cor ou em alguns detalhes da decoração. Dificilmente as roupas vão ficar por muito tempo dentro de malas ou caixas.

— A mulher, em geral, não abre mão do seu closet. Ou pelo menos, de ter um armário. E ela também é mais preocupada com o olhar do outro. No que a mãe, a amiga vão dizer. O homem não costuma se prender a normas. Se tiver que colocar uma mesa de sinuca ou um tabuleiro de botão no meio da sala, tudo bem. Porque é para o lazer dele, e ele não está nem aí se é bonito ou feio — garante a personal organizer Luciana Pinto Oliveira.

Diferenças de gênero à parte, uma coisa é certa. Remontar a casa não é fácil para ninguém. Mas tanto para eles, quanto para elas, há coisas que não se pode viver sem.

— Não são só nos móveis que devemos pensar, não. Tem que ter ao menos dois jogos de lençol, um lavando e outro na cama, dois de banho, duas panelinhas e pelo menos um conjunto de quatro pratos, copos e talheres — diz Luciana.

Que o diga o designer Augusto Souza. Quando se separou, ele ficou apenas com geladeira e fogão. Mas nem na cozinha sua vida era fácil. Queria comer feijão? Não tinha concha para servir. Tomar um vinho, talvez… Cadê o saca-rolha?

— A cada vez que isso acontecia, tinha que ir na rua comprar. E como o apartamento ficava no primeiro andar, era um tal de descer e subir escada… — diverte-se Augusto.

E, se às vezes não sobra nada, ou quase nada, em outras, os móveis são grandes demais para a nova casa. O que fazer quando o sofá não cabe? Ou quando não sobrou nenhum dinheiro para recomeçar?

Há casais que dividem tudo. Mesmo que isso signifique cortar, ao meio, aquele armário caro. E quem prefira adaptar.

— Já mandei diminuir uma mesa de madeira de demolição, de 2,5 metros para 1,6 metro. E também adaptei armários. Quando a peça é de boa qualidade, vale a pena. O serviço do marceneiro não vai ser tão caro como uma nova. Mas quando a qualidade não é tão boa, não faz sentido. O que não se pode fazer é entulhar a casa com móveis gigantes porque é preciso ter espaço de circulação — destaca Litsz.

E quando não dá para aproveitar a peça, o jeito é tentar vender. Tanto por intermédio de sites, que anunciam móveis e objetos usados, como através de modelos como vendas em residências. Há ainda os brechós e antiquários que compram peças de estilos e épocas variadas. É bem verdade que, no geral, eles vão se interessar mais por peças de época. Mas, antiquário que é antiquário, sempre quer dar pelo menos uma olhadinha.

Fonte: Jornal O Globo – 01/12/2013