Pode parecer a casa de um hobbit ou duende. Mas também pode ter uma aparência mais contemporânea, com paredes retas, lisinhas, claras. Quem decide é o construtor. E quem constrói é quem vai morar. Essa é a ideia do curso “Habitações sustentáveis” que o Instituto Pindorama, de Nova Friburgo, oferece no próximo fim de semana em sua sede, na Serra. Com dois dias de duração, o curso ensina técnicas de bioconstrução com diferentes materiais: terra, bambu, madeira, pedra. Todas sustentáveis.

– São técnicas milenares. Antigamente, as pessoas não terceirizavam a construção de suas casas. Eram as famílias que tinham essa responsabilidade. A ideia é que as pessoas façam mutirões para a construção – conta Nilson Dias, gerente de projetos do Pindorama, lembrando ainda que, no momento da construção, é preciso ter o acompanhamento de um arquiteto que conheça a técnica utilizada.

As vantagens estão no conforto térmico – casas de terra não esquentam, nem esfriam -, no maior controle da umidade, na velocidade de construção e, claro, no preço. Uma casa natural que use materiais disponíveis no terreno onde será construída pode custar até dez vezes menos que uma casa de alvenaria. Enquanto o metro quadrado de alvenaria custa R$ 2 mil no Rio, o natural fica em torno dos R$ 200. E uma casa de pau a pique de 120m², por exemplo, pode ser erguida em até três meses.

A maior desvantagem, segundo Dias, é o preconceito com esse tipo de construção, o que tem mais a ver com a aparência das casas que com sua qualidade técnica. Por isso, para quem quiser tirar o aspecto rústico, o curso ensina a fazer revestimentos também naturais.

É possível fazer uma argamassa com a mesma consistência da vendida comercialmente, usando argila branca, esterco, óleo de linhaça e soro de leite. Para pintar, também há tintas naturais feitas com mistura de cal, óleo de linhaça, cola branca e corantes naturais, como óxidos de metais e urucum.

– Com isso, a casa ganha a aparência que a pessoa quiser. Pode até ser contemporânea ou inspirada numa casa de hobbit – brinca Dias.

O difícil mesmo será usar as técnicas aprendidas na cidade. É que a maioria delas não pode ser utilizada no perímetro urbano. Mas em áreas rurais não há qualquer problema. E a maioria dos alunos de Dias é formada por “gente da cidade” de mudança para o campo, em busca de vida mais natural.

Conheça os tipos de bioconstrução

Superadobe. Criado por um engenheiro iraniano para ser usado em abrigos emergenciais, consiste em encher de terra sacos compridos. A terra é compactada com o uso de um pilão e os sacos são sobrepostos para erguer as paredes. A fundação pode ser feita com a mesma técnica ou ainda com pedra ou cimento.

Taipa de pilão. A técnica, utilizada na construção de igrejas no período colonial, consiste em preencher a taipa (formas de madeira) com terra socada por um pilão.

Palha. Para usar os fardos de palha nas paredes, é preciso ter uma boa fundação que pode ser feita com pneus recheados de pedra e argila. Os fardos são fincados uns nos outros com varas de ferro ou bambu.

Bambu. Chamado de madeira do futuro, é resistente e, por isso, pode ser usado como viga. Mas precisa passar por um tratamento contra pragas.

Cordwood. Mistura terra e toras de madeira nas paredes, mas é preciso ter algum elemento estrutural, como a madeira.

Adobe. Consiste em blocos de terra feitos ao se preencher formas, quase sempre de madeira, com as mãos. Tem tamanhos e formatos diversos e podem ser empregados em alvenarias estruturais, de fechamento e cúpulas.

 

Fonte: O Globo, Karine Tavares – 01/06/2014