Apartamentos de dois, três ou quatro quartos; áreas de lazer com piscinas, academias e parques; proximidade da praia e de centros comerciais. Tal descrição poderia servir para diversos condomínios da Barra. Mas um deles têm um atrativo especial: antes de receber moradores, vai abrigar os melhores atletas do mundo. Batizada de Ilha Pura, a vila olímpica dos Jogos de 2016, na Avenida Salvador Allende 3.200, já está ganhando forma: a um ano da data prevista para a entrega da obra, 70% do projeto estão concluídos, e três dos 31 prédios, prontos.

Complexo erguido pelas construtoras Carvalho Hosken e Odebrecht, sem injeção de dinheiro público, a Ilha Pura terá 3.604 unidades em um terreno de 820 mil m². Para a vila, serão usados 206 mil m². Durante as Olimpíadas do Rio, 18 mil pessoas, incluindo cerca de 11 mil atletas, ficarão alojadas em apartamentos que têm de 77 m² a 230 m² . São mais de dez tipos de prédio, todos com 17 andares, e 11 plantas diferentes de apartamentos. Em comum, o conforto oferecido aos atletas.

– Serão apartamentos de alto nível; em Londres, por exemplo, o alojamento era simples. O Rio de Janeiro já tinha concorrido recentemente, outras duas vezes, à sede dos Jogos (em 2012 e 2004, além de ter feito outras tentativas em 1936, 1944, 1948 e 1960), mas desta vez, ofereceu um terreno mais confortável para o projeto. Por mais que as Olimpíadas sirvam também para desenvolver a área no seu entorno, o atleta precisa de conforto, de uma região agradável e com estrutura já pronta – afirma o diretor-geral do empreendimento, Maurício Cruz.

Atualmente, a área ao redor da futura Vila dos Atletas é um grande canteiro de obras. Na Avenida Salvador Allende, as obras do BRT Transolímpico tomam conta do cenário, e, a uma distância de cinco quilômetros, a maior construção dos Jogos está sendo erguida: o Parque Olímpico, que reunirá 19 quadras e arenas para a disputa de 16 modalidades. Segundo Cruz, a proximidade entre as instalações das delegações e os locais de disputa foi um grande diferencial para a escolha da cidade como sede:

– Será um pequeno deslocamento até o local de competição. Para ir a Marechal Deodoro, onde também haverá parte do torneio, os ônibus dos atletas poderão utilizar o corredor expresso do BRT. Chegarão em no máximo 30 minutos.

Com uma extensa bagagem olímpica no currículo, Georgette Vidor, ex-treinadora e atual coordenadora da seleção feminina de ginástica artística, já visitou a Ilha Pura, e diz que o condomínio tem potencial para ser a melhor vila de atletas que ela conheceu. Georgette explica que os pontos mais importantes para os competidores são o refeitório, a proximidade com o local de competição, a oferta de infraestrutura e o conforto:

– A vila é o coração de tudo, onde todos ficam juntos. É um ambiente muito legal. Existe um encantamento natural, já que você estará rodeado de estrelas do esporte mundial, mas é preciso manter a concentração para não afetar o desempenho. Os atletas aproveitam sauna, piscina, academias. É um momento muito diferente de tudo o que vivemos.

Atualmente, 408 apartamentos estão concluídos, e os prédios ainda por terminar já têm alvenaria pronta, faltando apenas a parte de revestimento interno e externo. Enquanto isso, o Comitê Organizador Rio 2016, responsável por mobiliar as unidades, realiza testes com camas, armários, criados-mudos e cadeiras.

Com sete mil funcionários trabalhando das 7h às 19h, a Vila dos Atletas deve ficar pronta no final de fevereiro de 2016, para que no início de março seja entregue ao Comitê Olímpico Internacional (COI). Os Jogos Olímpicos e os Paralímpicos serão realizados de agosto até o final de setembro. Em outubro se inicia o processo de reparo e ajuste das unidades.

– O COI precisa reconverter os prédios em legado olímpico. Os apartamentos são devolvidos pintados, e as adaptações especiais para deficientes físicos em banheiros, por exemplo, são retiradas. O primeiro prédio será entregue aos compradores em março de 2017, e todos os apartamentos vendidos serão ocupados até julho – explica Maurício Cruz.

Móveis aprovados por atletas

Para se certificar de que os atletas estarão bem atendidos, o Comitê Organizador do Rio 2016 tem convidado veteranos do esporte para testar o mobiliário que será usado na Vila dos Atletas. A partir destas avaliações, que estão sendo realizadas no Campo dos Afonsos, em Marechal Deodoro, já ficou definido, por exemplo, que as camas deverão ter 90 cm de largura e 1,97 m de comprimento, podendo chegar a 2,20 m com extensor.

Entre os atletas que já participaram dos testes estiveram o ex- nadador Ricardo Prado, medalhista olímpico e presidente do Conselho de Esportes Rio 2016; o ex- jogador de basquete Paulinho Villas-Boas, representante do Brasil em duas Olimpíadas; o judoca Ruan Isquierdo, medalhista de bronze no Aberto Pan-Americano de El Salvador; e a ex-nadadora Flavia Nadalutti, que disputou os Jogos de Montreal, em 1976.

Ao todo, serão comprados 135 mil cadeiras, 46 mil mesas e 32 mil armários, além de 30 mil camas e mesas de cabeceira para os apartamentos dos atletas.

Depois das Olimpíadas, a Ilha Pura – que, destacam os construtores, dada a sua magnitude não é somente um condomínio residencial, mas sim um bairro planejado, registrado como tal – poderá crescer. No momento, apenas um terço do terreno está sendo usado para as construções.

– Existe potencial para se construir ainda cerca de 60 edifícios. Aqui certamente será a maior área residencial da região – prevê o diretor-geral do empreendimento, Maurício Cruz.

Erguer um centro comercial, batizado de Ilha Pura Mall, deverá ser a primeira medida visando à expansão. Por enquanto, as construtoras optaram por uma estratégia de vendas contida: somente 600 apartamentos foram postos à venda, e cerca de 30% já estão vendidos.

Com preço médio de R$ 9.600 por metro quadrado, o empreendimento prevê um volume geral de vendas de cerca de R$ 4 bilhões. As construtoras não revelam o custo das obras, um dos motivos que levaram o Tribunal de Contas da União (TCU) a pedir informações mais detalhadas ao Comitê Olímpico do Brasil (COB).

A prefeitura ficará responsável pelas obras de infraestrutura interna, como pavimentação de ruas, saneamento básico e eletricidade. Em relação à mobilidade, o condomínio foi concebido com o objetivo de incentivar o ciclismo. Por isso, uma ciclovia contornará todo o espaço e se ligará à que está sendo construída na Avenida Salvador Allende.

Um dos trunfos do residencial é ter sua construção atrelada ao conceito de sustentabilidade. O empreendimento terá dispositivos de economia de água e de energia, como placas de captação solar. Além disso, haverá um parque público de 72 mil m² , com projeto de paisagismo do escritório Burle Marx.

 

Fonte: O Globo – 19/02/2015