Artigos raros na cidade, os imóveis de quarto e sala estão voltando à cena do mercado imobiliário carioca. Devido à legislação, que estabelece área mínima que varia de 30 a 60 metros quadrados para a construção, conforme a região, esse perfil de imóvel quase desapareceu — para os construtores, acabava sendo mais vantajoso construir apartamentos de dois quartos, que podem ter apenas 46 metros quadrados. Mas, de olho na demanda por acomodações para os grandes eventos que vão acontecer no país nos próximos anos, os empresários voltaram a investir nesse segmento. De janeiro a agosto de 2013, foram lançadas 185 unidades de um quarto no Rio de Janeiro, o mesmo número de todo o ano de 2010.

O crescimento já vem sendo observado desde 2011, segundo a Associação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário (Ademi-RJ), quando foram lançados 268 apartamentos de um quarto na cidade. Ano passado, esse número chegou a 748. Incluem-se aí residenciais com serviços, já mobiliados, com facilidades como faxineira, lavanderia e administração dos aluguéis.

Os preços variam por região, sendo que em Jacarepaguá e Recreio se concentram a maioria dos lançamentos. Para os investidores que querem comprar um imóvel com esse perfil para alugar, o preço máximo recomendado é de R$ 360 mil, avalia Rafael Duarte, diretor da Percepttiva Marketing Imobiliário, pois acima desse valor já vale mais a pena adquirir um dois quartos. O aluguel médio do quarto e sala novo é de R$ 2 mil.

Mas não são apenas os grandes eventos esportivos que aquecem o segmento na cidade. O público interessado nos quartos e salas já começava a crescer nos últimos anos. De acordo com o IBGE, em 2000, 13,57% dos lares do Rio tinham um único morador e em 2010 esse número passou a ser de 17,52%.

Para Duarte, o desenvolvimento urbano das zonas Norte e Oeste e a vinda de grandes eventos para a cidade reforçam a oportunidade de mercado já existente com a lacuna de opções a um determinado público — os jovens que saem da casa dos pais para morar sozinhos, pessoas que se separaram e os idosos.

Apesar de estar crescendo, o número de imóveis de quarto e sala corresponde ainda a apenas 2,5% do total de unidades lançadas este ano no Rio.

— Se a área mínima útil exigida é de 50 m² numa região, isso significa cerca de 58 m² de área privativa. Se vou construir quase 60 m², é melhor fazer um dois quartos — exemplifica Luiz Henrique Rimes, diretor de Negócios da João Fortes Engenharia, responsável pelo West Vintage, no Recreio, que está previsto para ser lançado no fim de outubro, com 72 unidades de um quarto.

Foi o pacotão dos residenciais com serviços que atraiu o administrador Fernando Moraes a investir num quarto e sala. Com uma expectativa de taxa de ocupação alta e a facilidade de não precisar montar o apê e procurar inquilinos, ele comprou um dos 90 imóveis do Studio 6677, da MDL Realty, na Estrada dos Bandeirantes, em frente ao Projac.

Neste modelo de residenciais com serviços, chamado de pool de locação, o dono do imóvel assina uma procuração para a administradora e seu rendimento mensal vem da divisão igualitária da receita do aluguel de todas as unidades do edifício. A Calçada apostou nesse segmento e fez dois lançamentos, em 2012, na Estrada dos Bandeirantes, próximo à Vila Olímpica, na Barra: o Midas, que em duas horas vendeu os 203 apartamentos a R$ 330 mil, e o Grand Midas, que tem 288 unidades, todas de quarto e sala.

— Como temos grandes eventos previstos para a cidade e não há muitos hotéis na região, focamos no público investidor — explica Thiago Hernandez, gerente comercial da Calçada.

Outra que mirou neste público foi a Leduca, com o Genesis, lançado em março na Freguesia. São 140 unidades de um quarto (de um total de 407), a partir de R$ 329 mil. Já foi 90% vendido. Já a PDG quer atingir as duas pontas e lançará o Dom, em Cachambi, focado no morador, e o Expert, na Região Olímpica, com serviços, voltado para a locação.

— Os imóveis menores são mais procurados tanto para revenda quanto para aluguel. É mais fácil de vender porque as famílias estão menores e há maior facilidade de crédito — resume Cláudio Hermolin, diretor da PDG Rio.

Fonte: Jornal O Globo – 13/10/2013