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A Linha 4 do metrô, que começou a operar ontem entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul, ainda em horário limitado (das 6 às 21 horas), deverá reduzir em até 35%, durante o rush, o volume de carros em circulação na Autoestrada Lagoa-Barra. A estimativa é da engenheira especializada em transportes Eva Vider, da Escola Politécnica da UFRJ, que toma como base projeções feitas pelos estudos de viabilidade que justificaram a construção da nova linha. O levantamento estimou que até 2 mil veículos (em cada sentido) deixem de circular nos horários de pico.

– Se os estudos de demanda se confirmarem, a migração para o metrô vai ajudar bastante a reduzir as retenções, principalmente no sentido Zona Sul, onde o tráfego em boa parte da via opera apenas com duas faixas. Para se ter uma ideia, em sua atual configuração, sem engarrafar, a Lagoa-Barra só é capaz de absorver 3,6 mil veículos por hora – disse Vider.

A especialista observou que a inauguração do novo Joá, no fim de maio, já ajudou a minimizar os problemas no trânsito entre as duas regiões da cidade. Com a obra, uma terceira faixa foi aberta em cada sentido, garantindo melhorias na fluidez do tráfego. Por enquanto, porém, o impacto imediato da Linha 4 ainda não é conhecido. Apenas hoje a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET-Rio) deve divulgar dados sobre o comportamento do trânsito na Lagoa-Barra.

As estimativas de demanda do metrô se fundamentam em um estudo de viabilidade econômica contratado pelo estado para avaliar o novo traçado da Linha 4 entre o Jardim Oceânico e Ipanema. Ele foi desenvolvido pela Fundação Getulio Vargas (FGV) e ficou pronto em 2011. A FGV calculou que dos 300 mil usuários esperados por dia (somadas todas as viagens), 184 mil trocariam os carros particulares pelo novo sistema de transporte, enquanto os outros 216 mil migrariam dos ônibus que rodam em linhas convencionais ou são fretados por condomínios.

ÔNIBUS DE CONDOMÍNIOS FAZEM INTEGRAÇÃO

O estudo tomou como base um cenário ideal de operação. Ou seja, sem a baldeação na Estação General Osório (Ipanema), que deve continuar sendo feita até o fim do ano. Também leva em consideração a Estação Gávea, que só deve ficar pronta em 2018. Segundo a FGV, pelo menos 30.543 pessoas passariam pela estação do Jardim Oceânico (28.697 excluindo-se a Estação Gávea).

Entre os que apostam na mudança de hábitos está o presidente da Câmara Comunitária da Barra, Delair Dumbrosck. Ele acredita que, com a entrada em operação do metrô, os síndicos dos condomínios da região vão renegociar contratos com as empresas de fretamento de ônibus. Em lugar dos coletivos seguirem viagem até o Centro, eles passarão a deixar os passageiros na estação de integração do Jardim Oceânico.

– Já negociamos inclusive com a CET-Rio para os coletivos pararem num terminal de integração com as linhas alimentadoras no Jardim Oceânico. A revisão dos itinerários será mais uma medida que ajudará a reduzir os congestionamentos na saída e na chegada da Barra. E vai pesar até na taxa cobrada dos condomínios, já que o fretamento de coletivos chega a representar 30% das despesas pagas pelos síndicos – disse Delair.

A Linha 4 começou a funcionar no dia 1ª de agosto, mas a circulação estava restrita apenas à chamada família olímpica e ao público que foi assistir às competições olímpica e paralímpica. Por enquanto, o serviço só vai funcionar nos dias úteis. Nas primeiras horas da manhã, a estimativa do metrô é que cerca de 300 pessoas saíram da Barra em cada trem. Deste total, 80% desembarcaram na Estação General Osório. Na direção oposta, grande parte dos usuários desceu até a Estação Antero de Quental, no Leblon.

Muitos usuários do serviço contaram que optaram por deixar o carro em casa. Mas também houve reclamações por causa das plataformas lotadas na General Osório devido à necessidade de fazer baldeação.

Entre os que trocaram o carro pelo metrô ontem estava a empresária Arlete Conceição, moradora da Barra há uma década. Cansada de perder tempo nos deslocamentos entre sua casa e o trabalho em Ipanema, ela chegou a pensar em se mudar para a Zona Sul. Arlete embarcou na primeira composição que saiu da Barra, às 6h.

– Estou feliz. Uma das minhas metas daqui para frente é ter mais qualidade de vida, mais tempo com meu neto, já que perdia duas horas no trânsito diariamente – contou Arlete.

Outro que decidiu mudar os hábitos foi o estudante Guilherme Ribeiro, que mora na Barra e faz faculdade em Copacabana. Contou que levava uma hora de carro de casa até a Zona Sul e gastava cerca de R$ 500 por mês com combustível e estacionamento.

– Agora vou gastar cerca de 20 minutos até Copacabana. E vou economizar quase R$350 por mês por deixar de usar o carro – contou.

Na primeira viagem do dia, cerca de 80 pessoas embarcaram na Estação Jardim Oceânico. O trem percorreu as cinco estações da linha em cerca de 15 minutos.

– Foi muito rápido. Confesso que ainda acho estranho entrar na Barra e poder sair no meio de Ipanema. Mas estou gostando – contou o passageiro Mateus Gomes.

Morador da comunidade da Muzema, no Itanhangá, o cozinheiro José Aírton também aprovou a novidade. Ele calcula que vai economizar pelo menos duas horas por dia nos deslocamentos entre sua casa e o trabalho, no Catete.

– Antes eu tinha que pegar dois ônibus, levava mais de três horas para ir e voltar.

De acordo com o diretor do metrô Daniel Habib, no fim do mês que vem haverá um balanço da operação. Esse levantamento servirá para que o sistema seja aprimorado. Até agora, está decidido apenas que a Linha 4 funcionará nos dois domingos de eleição (2 e 30 de outubro).

Em Ipanema pela manhã, as composições da Linha 1 saíam com intervalos de seis minutos, mas sempre cheias. Nas primeiras horas, muitos usuários reclamaram de dificuldades para se orientar. No sentido Barra, o movimento se intensificou a partir das 8h, o que fez com que o Consórcio BRT passasse a operar com coletivos do serviço Transoeste saindo do terminal de integração do Jardim Oceânico a cada três minutos.

CONEXÃO COM O BRT

Ontem, para absorver a demanda do metrô na Barra, o BRT Transoeste ganhou dois novos serviços expressos: Jardim Oceânico-Alvorada (com paradas no Bosque Marapendi e Barra Shopping) e Jardim Oceânico-Recreio Shopping (com paradas no Bosque Marapendi, Barra Shopping, Salvador Allende e Gláucio Gil). Outro serviço que foi iniciado ontem foi o parador Alvorada-Terminal Olímpico (parada nas estações Lourenço Jorge, Aeroporto de Jacarepaguá, Via Parque, Centro Metropolitano, Rede Sarah, Rio 2 e Parque Olímpico). Além deles, há linhas paradoras saindo do Jardim Oceânico para o Recreio e o terminal Alvorada.

Fonte: Jornal O Globo – 20/09/2016